O Eclipse da Igreja: O Motivo pelo Sedevacantismo

PORTUGUESE Translation of
Eclipse of the Church: The Case for Sedevacantism

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O Eclipse da Igreja: O Motivo pelo Sedevacantismo

por Mario Derksen

apresentado em 8 de Outubro de 2021
na Conferência de Fátima em Spokane, Washington

(em inglês: vídeo aqui | áudio aqui | comprar CD de áudio aqui)

O texto foi levemente alterado pelo autor e otimizado para publicação impressa. As notas finais seguem o texto principal. De acordo com a permissão do autor, todas as citações bíblicas são da tradução da Bíblia Sagrada de Pe Matos Soares, 6ª edição, 1956.

Quando nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo fundou a Igreja Católica Romana, Ele não apenas criou uma instituição que ensinaria Sua doutrina através do mundo e conferiria Sua Graça através dos sacramentos. Nem tampouco Ele a fundou simplesmente como uma comunidade organizada de todos que acreditam Nele e O seguem. Muito mais que isto, Cristo fundou a Igreja como uma sociedade sobrenatural  infalível que em verdade constituiria Seu próprio Corpo Místico, um corpo do qual Ele é a cabeça e os fiéis são os membros, desta maneira aquele que está unido ao Corpo está unido à Cabeça.

Assim como Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14:6), também Sua Igreja seria um instrumento infalível pelo qual e no qual almas seriam ensinadas e santificadas com Sua própria autoridade (Mt 16:19; 18:18) e desta maneira seria trazidas seguramente para a glória celestial (Jo 17:12).

Em uma mensagem de rádio na véspera de Natal em 1951, Papa Pio XII nos ensina que “O Divino Redentor fundou a Igreja com o objetivo de comunicar para a humanidade Sua Graça e Sua Vontade até o fim dos tempos. A Igreja é Seu ‘Corpo Místico’. Ela é inteiramente de Cristo e Cristo é Deus (I Cor 3:23)” (1). É nosso próprio Salvador que nos garante que Sua Igreja não meramente têm a obrigação de ensinar a verdade e santificar almas em qualquer época e irá realmente fazê-lo. Em nenhum momento ela ensinará qualquer coisa que não esteja conforme o Evangelho de Nosso Senhor e em nenhum ponto será ela um perigo para as almas.

Em sua encíclica de 1943 sobre o Corpo Místico, o próprio Pio XII nos ensina que “Jesus Cristo, pendurado na Cruz, abriu para Sua Igreja a fonte daqueles dons espirituais, o qual a previne de em algum momento ensinar qualquer falsa doutrina e A capacita para administrar os mesmos dons espirituais para a salvação das almas através de um clero divinamente iluminado e para outorgar a abundância das graças divinas” (2).

O propósito da Igreja é claro. Ela existe com o objetivo de “perpetuar na terra o trabalho salvífico da Redenção” (3) e desta maneira conduzir as almas unidas à Ela para o Céu. Este é o motivo que Nosso Salvador se fez carne; Este é o motivo pelo qual Ele fundou Sua Igreja. Tudo na Igreja Católica existe para um único propósito: a salvação das almas e, através disto, a glória do Deus Onipotente, “o qual quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (I Tm 2:4).

Essas verdades são parte integrante da Santa Fé Católica, sem a qual é impossível agradar a Deus (ver Hb 11:6). Esta fé que mantemos e professamos, pela graça de Deus, até o derramamento de nosso sangue.

E, no entanto, estamos todos aqui esta noite porque reconhecemos que a instituição que hoje se denomina Igreja Católica Romana é substancialmente diferente da sociedade sobrenatural fundada por Jesus Cristo e visivelmente pastoreada por Seus Vigários ao longo dos tempos até a morte do Papa Pio XII em 9 de outubro de 1958. Esta “Nova Igreja” que desde então tem sido estabelecida no Vaticano, cujo principal evento revolucionário foi o chamado Concílio Vaticano II, ou Vaticano II, não ensina a mesma doutrina apostólica, não glorifica a Deus, não promulga leis sagradas e não santifica as almas. No lugar do Santo Sacrifício, ela oferece o que é pouco mais do que um serviço de comunhão protestante. E assim com o semeador no Evangelho nós  observamos que: “Foi um inimigo que fez isto” (Mt 13:28).

Em 4 de fevereiro de 2019, o falso papa Francisco (Jorge Bergoglio) assinou publicamente uma declaração, junto com um líder muçulmano, o Grande Iman Ahmad Al-Tayyeb, em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos. O assim chamado Documento sobre a Fraternidade Humana  afirma: “O pluralismo e a diversidade de religiões, cor, sexo, raça e língua são desejados por Deus em Sua sabedoria, por meio da qual Ele criou os seres humanos. Esta sabedoria divina é a fonte da qual o direito à liberdade de crença e a liberdade de ser diferente deriva” (4).

Isso é uma blasfêmia! E é pior do que heresia; é apostasia. Enquanto a heresia nega um único artigo de fé, a apostasia significa um afastamento completo da fé. Heresia e apostasia diferem apenas em grau, não em espécie. Nem o herege nem o apóstata tem Fé; nenhum deles é Católico.

A ideia de que Deus deseja que exista diversidade de religiões destrói os próprios fundamentos do Evangelho de Jesus Cristo. Isto acaba com todo o Catolicismo; ainda mais, elimina a própria noção de religião revelada como um todo. Elimina a reivindicação de qualquer religião de ser a verdade objetiva revelada por Deus, uma vez que fundamenta todas as crenças religiosas na esfera do subjetivo e relativo. É uma declaração ousada do Modernismo, a qual o Papa São Pio X corretamente chamou de “a síntese de todas as heresias” (5). É também o solo fértil sobre o qual a religião mundial do Anticristo pode ser construída, porque se Deus deseja todas as religiões, então nenhuma delas é realmente verdadeira (6).

O ensinamento divino de nosso Senhor, claro, é totalmente incompatível com essa ideia blasfema e apostática conforme expressa na declaração de Abu Dhabi. Na Última Ceia, Cristo disse a São Tomé: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida.Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14:6). E antes Ele havia dito aos fariseus: “… se não crerdesem quem eu sou, morrereis no vosso  pecado” (Jo 8:24).

Cristo não tolera indiferença (ver Mt 12:30; Ap 3:15-16), e Ele não vai compartilhar Sua Glória com um falso deus (ver Ex 20:2-5), nem colocar a Sua Verdade no mesmo nível das fábulas de religiões diabólicas ou feitas pelo homem (ver II Cor 6:14-16; cf. Rm 3:4). Ele é o Sinal da Contradição (ver Lc 2:34) que coloca os homens em desacordo com outros homens (ver Mt 10:35), que “não veio para enviar a paz, porém a espada” (Mt 10:34). Ele é a pedra angular rejeitada pelos construtores (ver Mt 21:42; Atos 4:11), e “sobre quem quer que caia, será reduzido o a pó” (Mt 21:44). “Nem há salvação em nenhum outro. Pois não há outro nome sob o céu que foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4:12).

Desta maneira Francisco faz de Cristo um mentiroso! Ele destrói o Evangelho em sua própria essência e efetivamente declara todas as religiões pagãs debaixo do sol, não apenas algo desejado por Deus, mas também a expressão de Sua sabedoria!

Certamente não é exagero dizer que esta Nova Igreja deu início à Grande Apostasia predita por São Paulo em 2 Tessalonicenses 2:3: “A apostasia deve vir primeiro; e sem que tenha aparecido o homem do pecado, o filho da perdição” (conferir também Lc 18:8; Mt 24:11). Na verdade, se esta não é a Grande Apostasia, é difícil sequer imaginar o que restaria para a verdadeira Grande Apostasia realizar. O que restará para o mundo apostatar?

Esse incongruente estado de coisas obviamente exige uma explicação; uma explicação que, ao mesmo tempo faça justiça suficiente para o que é evidente aos nossos sentidos e também seja teologicamente correta. Ou seja, deve estar de acordo com os fatos observados, mas também com a fé. Não precisamos temer qualquer contradição entre ambos, porque, embora nossas mentes débeis não sejam capazes de resolver tudo adequadamente, “… a Fé não se oporá de forma alguma aos dados mais certos da experiência e da razão” (7), como Dom Prosper Guéranger escreve em seu magnífico livro A Monarquia Papal, o qual traz o endosso explícito do Papa Pio IX.

Para compreender o que têm ocorrido ao Corpo Místico de Cristo, proponho que será útil, em primeiro lugar, ouvir as advertências que os Sumos Pontífices haviam dado repetidamente nos últimos 200 anos anteriores à Revolução Modernista do Vaticano II.

No prólogo de sua Constituição Apostólica Auctorem Fidei, lançada em 1794, o Papa Pio VI fala de uma “terrível e eterna conspiração contra o próprio corpo de Cristo, que é a Igreja…” (8). Para entender o que é essa conspiração, quem são seus protagonistas e por que deve ser dirigido contra o Corpo Místico de Cristo, devemos revisar brevemente o razão pela qual nosso Bem-aventurado Senhor fundou a Igreja Católica.

Desde o início, era plano de Deus que a humanidade possuísse não apenas uma vida natural comum do corpo  compartilhando uma mesma natureza humana, mas também uma vida sobrenatural comum da alma pela participação na graça santificadora.Como na ordem natural, toda a humanidade forma uma família natural, visto que todos os seres humanos são descendentes dos primeiros pais, Adão e Eva (9), e compartilham de sua natureza, portanto, na ordem sobrenatural, a humanidade foi constituída por Deus para ser tricotada em uma união espiritual. Como o santo Padre Edward Leen escreveu em seu livro de 1938 Por que a Cruz?:

Os homens foram feitos para formar não apenas uma família, eles foram planejados para atuar como membros de um Corpo Místico, compartilhando da mesma vida sobrenatural. Toda a espécie humana deveria trabalhar seu caminho para seu objetivo final como um ser único … Assim como o sangue vital flui através de todos os membros de um corpo vivo, nutrindo adequadamente cada parte e capacitando o mesmo a cumprir sua função apropriada, o sangue vital do alma, isto é, a  graça santificadora e a caridade divina, deveria fluir através de todos os membros do vasto e místico corpo humano, dando-lhe  um vigor divino e capacitando-o a exercer seu devido papel em relação aos outros membros e ao corpo como um todo. (10)

Com a queda de Adão e Eva no Jardim do Éden, o pecado original entrou no mundo e com ele as conhecidas  conseqüências, que são principalmente, mas não exclusivamente, espirituais. O homem, criado à imagem e semelhança de Deus, caiu em desgraça. Sua semelhança com Deus foi perdida, e a imagem divina nele foi ferida e escurecida.

Mas antes mesmo de Deus dizer a Adão e Eva qual seria sua punição, Ele prometeu, embora obscuramente, um Redentor: “Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela  te pisará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar” (Gn 3:15). Pois Deus, sendo benevolente, omnisciente e omnipitente, não permitiria que o diabo triunfasse sobre Sua criação e a arrebatasse Dele, por assim dizer, toda a raça humana, que foi criada por nenhuma outra razão senão a glória de Deus e sua própria bem-aventurança eterna.

A fim de restaurar ao homem o que ele havia perdido e capacitá-lo a atingir a meta eterna que constitui a própria razão para sua existência, também ao mesmo tempo render plena satisfação à Honra Divina que havia sido ultrajada, não violando nem a misericórdia nem a justiça, Deus escolheu assumir a natureza humana e reparar os pecados da humanidade. “Deus se deparará a vítima para seu holocausto” (Gn 22:8), Abraão disse a seu filho Isaque, enquanto carregava lenha em sua subida a colina para o local do sacrifício. “Deus mesmo virá e vos salvará”, profetizou Isaias (Is 35:4).

Sendo verdadeiro homem, o Sacrifício de Cristo seria mais apropriadamente prestado em nome da raça humana; sendo verdadeiro Deus, Seu sacrifício realmente forneceria uma expiação superabundante pelos pecados dos homens e seria infinitamente agradável ao Pai. Então quando a plenitude dos tempos havia chegado e a Virgem profetizada por Isaias estava grávida (ver Mt 1:23; Is 7:14) e deu à luz ao Redentor Prometido, imediatamente encontramos o Deus Encarnado perseguido pelo Rei Herodes (cf. Mt 2:16). O massacre dos Santos Inocentes foi certamente um prenúncio da perseguição de nosso Senhor por Seu próprio povo judeu durante Sua vida pública e sobretudodurante Sua Sagrada Paixão, conforme profetizado (cf. Jr 31,15; Sb 2,12-24; Is 53).

É lá – no Ministério público de nosso Senhor e Sua santa Paixão – que encontramos a origem desta “terrível e interminável conspiração contra o próprio corpo de Cristo”, da qual fala o Papa Pio VI. “O espírito do Anticristo entrou em ação assim que Cristo foi manifestado ao mundo” (11), escreve o cardeal Henry Edward Manning, o celebrado convertido no século 19 do Anglicanismo. O mesmo autor observa que este movimento para contrariar, opor-se e  acabar com o verdadeiro Messias “tem acumulado seus resultados de era em era” (12), e assim podemos dizer que “todas as heresias desde o início não são mais que o desenvolvimento contínuo e a expansão do ‘mistério da iniquidade’, que já estava em ação” (13) na época dos Apóstolos – São Paulo fala disso em 2 Tessalonicenses 2:7. Ele continuará a progredir e se expandir até atingir a medida completa de sua iniqüidade, culminando na aparição do Anticristo, que, escreve o Cardeal Manning, “não será simplesmente o antagonista, mas o substituto ou suplantador do verdadeiro Messias” (14). Esse é um ponto de importância excepcional, e voltaremos a ele mais tarde.

Quando nosso Santo Senhor prestou na Cruz o Supremo Sacrifício ao Seu Pai celestial em nosso nome, Ele o fez a fim de restaurar a graça santificadora perdida por Adão para toda a humanidade. Mas Cristo não desejou meramente restaurar a graça aos indivíduos sem conexão uns com os outros – assim como antes da Queda essa graça santificadora era para unir toda a humanidade em um único corpo espiritual, desta maneira a graça restaurada foi para trazer todos os pecadores arrependidos em um corpo místico, o Corpo Místico de Cristo, que é o Segundo e Verdadeiro Adão, a cabeça da humanidade regenerada e restaurada.

Este Corpo Místico, o Papa Leão XIII nos ensina que, “saiu do lado do segundo Adão em Seu sono na Cruz” e primeiro se manifestou “diante dos olhos dos homens no grande dia de Pentecostes” (15). Nosso Bendito Senhor, em Sua misericórdia e bondade, assim se identifica com aquele Seu Corpo Místico que, como instrui o Papa Pio XII, “o Divino Redentor e a Sociedade que é o Seu Corpo forma apenas uma pessoa mística, isto é, para citar Agostinho, o Cristo inteiro” (16). Nosso próprio Senhor é a Cabeça; os fiéis são os membros.

Encontramos essa identificação completa de Cristo Senhor com Seu Corpo Místico nos Atos dos Apóstolos. No estrada para Damasco, nosso santo Redentor confronta Saulo, que persegue ferozmente a Igreja. E Ele disse a ele: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9:4).

Assim, Cristo, que em Seu corpo físico ascendeu ao Céu e agora está sentado à direita do Pai (cf. Mc 16:19; cf. Mt 22:44; 26:64; Sl 109:1), perpetua Sua existência terrena em Seu Corpo Místico. Temos algum motivo para surpresa, então, se descobrirmos que, como escreve o cardeal Manning, “[a] história da Igreja, e a história de nosso Senhor na terra, correm em paralelo”? (17) O Papa Pio XII ensina que “a sociedade estabelecida pelo Redentor da raça humana se assemelha a seu divino Fundador que foi perseguido, caluniado e torturado por aqueles mesmos homens a quem Ele se comprometeu a salvar” (18).

O caminho da salvação é o caminho da Cruz, e isso é verdade não apenas para o Corpo Físico de nosso Senhor, mas também para o Seu Corpo Místico, a Igreja. Como o próprio Cristo ordenou: “Se alguém quer vir após de mim, negue-se a si mesmo , tome a sua cruz  e siga-me” (Mt 16:24; veja também Rm 6: 5; 2 Tm 2:11). Desta forma, fazemos o que São Paulo descreveu em sua Carta aos colossenses. Referindo-se a si mesmo, ele disse: “Eu, agora, me alegor nos sofrimentos por vós e completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo, pelo seu corpo (místico), que é a Igreja” (Colossenses 1:24). (19)

Num livro recomendado por Santa Teresa de Lisieux, O Fim do Mundo Atual e os Mistérios da Vida Futura, o autor Fr. Charles Arminjon explica isso um pouco mais. Ele escreve:

Agora, o corpo místico e coletivo de Jesus Cristo é modelado em Seu corpo individual. …

O que foi realizado em Jesus Cristo individualmente deve ser continuado em Seu coletivo, ou místico, corpo. Essa é a lei da solidariedade indestrutível, estabelecida entre a cabeça e os membros. Seria dificilmente adequado se este último se alçasse para a glória sem passar pelas transformações suportadas pela cabeça. Não se pode considerar que Jesus Cristo quis abrir dois caminhos diferentes que conduzem ao céu, um para Si mesmo, áspero e excruciante, o outro para Seus seguidores, confortávele preenchido com rosas e prazeres. (20)

E então Cristo deseja sofrer em Seu Corpo Místico como sofreu em Seu Corpo Físico.

Já vimos que a força motriz por trás deste “mistério da iniquidade” é Satanás, que, tendo falhado em prevenir a própria Redenção agora procura frustrar sua aplicação generosa às almas. Uma maneira de fazer isso é inspirando descrença e corrupção moral nas almas. Um papel particularmente trágico pertence aos judeus apóstatas, que, tendo rejeitado definitivamente o verdadeiro Messias sobrenatural na Sexta-feira Santa, agora procuram suplantá-Lo com um falso messias mundano que é agradável a seus objetivos naturalistas (21).

São Roberto Belarmino observa que é certo que “o Anticristo virá especialmente por causa dos judeus, e … ele será recebido por eles como o Messias…” (22). Nosso Abençoado Senhor mesmo havia profetizado isso quando disse aos judeus: “Vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis; se vier outro em seu próprio nome, recebê-lo-eis” (Jo 5:43). Ao mesmo tempo, esperamos com alegria o tempo em que os judeus abraçarão seu verdadeiro Messias e Redentor, pois também foi profetizado que ocorreria antes do fim do mundo (23).

Assim como com a vida terrena de nosso Senhor, a Perseguição do Corpo Místico também culminará em uma Paixão Mística. Já que o diabo não conseguiu derrotar Cristo na Cruz, ele agora tenta derrotar Cristo em Seu Corpo Místico na terra, a Igreja. E quem neste Corpo místico representa mais a Cristo do que Seu Vigário, a cabeça visível da Igreja, o Papa! Como Pio XII ensina: “Cristo e Seu Vigário constituem uma única Cabeça” (24). Isto somente faz sentido, portanto, que a perseguição do diabo ao Corpo Místico, especialmente nas fases mais maduras de sua manifestação, centrar-se-ia no Papa (25).

Na verdade, os papas dos séculos XVIII e XIX, em especial, falam repetidamente sobre uma luta, uma guerra, uma conspiração contra o Igreja Católica e, em particular, contra a Sé Apostólica, a Cátedra de São Pedro. Deixe-me compartilhar com vocês apenas algumas citações para ilustrar isto.

Em 1851, na encíclica Exultavit Cor Nostrum, o Papa Pio IX fala da “guerra feroz contra tudo o que é católico e esta Sé Apostólica…” (26). Em sua encíclica Quanta Cura de 1864, ele deplora “tão grande conspiração contra os interesses católicos e esta Sé Apostólica…” (27). Seu sucessor, o Papa Leão XIII, escreve em sua encíclica de 1884 contra a Maçonaria, Humanum Genus: “Eles estão planejando a destruição da santa Igreja públicamente e abertamente, e isso com o propósito definido de despojar totalmente as nações da Cristandade, se fosse possível, das bênçãos obtidas para nós por meio de Jesus Cristo nosso Salvador” (28). No mesmo documento, ele explica mais:

…Contra a sé apostólica e o Pontífice Romano, a contenda desses inimigos tem sido por muito tempo direcionada. …Agora é chegado o tempo em que os partidários das seitas declaram abertamente o que em segredo há muito tempo conspiram, que o sagrado poder dos Pontífices deve ser abolido, e que o próprio papado, fundado por direito divino, deve ser totalmente destruído. Se outras provas faltassem, esse fato seria suficientemente divulgado pelo depoimento de homens bem informados, dos quais alguns em outras ocasiões, e outros novamenteem época recente, declararam que é verdade para os maçons que eles especialmente desejam atacar a Igreja com hostilidade irreconciliável, e que eles nunca irão descansar até terem destruído tudo o que os supremos Pontífices estabeleceram por causa da religião. (29)

A respeito dessas tentativas dos inimigos de Deus e da Igreja, as palavras do Papa Pio IX em sua encíclica de 1853 Inter Multiplices são muito instrutivas. Dirigindo-se aos bispos da França, o Papa diz:

Agora vós sabeos bem que os inimigos mais mortais da religião católica sempre travaram uma guerra feroz, mas sem sucesso, contra esta Cadeira; eles não são de forma alguma ignorantes ao fato de que a própria religião nunca pode cambalear e cair enquanto esta cadeira permanece intacta, a cadeira que repousa sobre a rocha da qual os orgulhosos portões do inferno não podem derrubar e no qual está toda e perfeita solidez da religião cristã. (30)

Podem perceber? Ele diz, “enquanto esta cadeira permanecer intacta”! Agora, pela doutrina Católica, a Cátedra de São Pedro pode estar vaga (sede vacante), o que significa que não há nenhum Papa reinando; e pode ser impedida (sede impedita), ou seja, existe um verdadeiro Papa mas ele não pode exercer seu ofício, por exemplo, porque está sendo mantido prisioneiro em algum lugar. Mas a Cátedra de São Pedro não pode desertar – não pode deixar de ser o que foi divinamente estabelecido para ser!

Em sua encíclica Qui Nuper de 1859, Pio IX chama a Sé Apostólica de “a cidadela e o baluarte da fé católica” (31). Fortaleza da Fé não pode se transformar em uma masmorra infernal, ensinando as doutrinas do inferno no lugar da doutrina salutar de Cristo. Não pode de repente contradizer a Fé, ensinar heresia ou dar à Igreja sacramentos inválidos, santos falsos, ou leis ímpias e blasfemas. A Cadeira da Verdade não pode se tornar a Cadeira das Mentiras, pois Cristo nosso Senhor prometeu que não ocorreria (veja Mt 16:18; Lc 22:31-32).

Desta maneira, o Concílio Vaticano Primeiro nos ensina:

…Esta sé de São Pedro sempre permanece imaculada por qualquer erro, de acordo com a promessa divina de nosso Senhor e Salvador ao príncipe de seus discípulos: mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desvaleça:e tu, uma vez convertido, conforta os teus irmãos [Lc 22:32].

Este dom da verdade e da fé infalível foi, portanto, divinamente conferido a Pedro e seus sucessores nesta sé para que possam cumprir seu exaltado ofício para a salvação de todos, e para que todo o rebanho de Cristo possa ser mantido afastado por eles do alimento venenoso do erro e ser nutrido com o sustento da doutrina celestial. Assim, a tendência de cisma é removida e toda a igreja é preservada na unidade e, apoiada em sua fundação, pode permanecer firme contra as portas do inferno. (32)

Certamente é lógico que a Arca da Salvação não pode se tornar a Arca da Danação. O Vigário de Cristo não pode tornar-se o Vigário do Anticristo.

E, no entanto, parece que depois da morte do Papa Pio XII em 1958, a Sé Apostólica desertou. Pois, sob os ostensivos Papas João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI e Francisco, a instituição que falsamente afirma ser – mas é reconhecida em todo o mundo como – a Igreja Católica Romana, tem pregado um evangelho diferente, com o Concílio Vaticano II na década de 1960 marcou o “marco zero” definitivo para este “grande reinício” no catolicismo que prometeu “reconstruir melhor”.

Certamente estamos todos familiarizados com as muitas aberrações doutrinárias e litúrgicas que esta Nova Igreja trouxe. Para mencionar apenas algumas: O ensino claro de que somente a Igreja Católica é a verdadeira Igreja de Cristo e todos as outras assim chamadas confissões cristãs são seitas heréticas que não têm parte com Cristo, foi substituído por um ecumenismo indiferentista, de acordo que todos os batizados são de alguma forma parte da verdadeira Igreja, mas não “totalmente”. A unidade Cristã, agora nos dizem, não é mais encontrado exclusivamente na Igreja Católica (de modo que teríamos que trazer de volta todos aqueles que estão separados dela), mas por católicos e protestantes “buscando a verdade em comum”, tentando encontrar uma maneira de sintetizar suas respectivas posições teológicas em uma “diversidade reconciliada” ainda não especificada. É revelador, mas não surpreendente, que o principal ecumenista do Vaticano, “Cardeal” Kurt Koch, lamentou no início de 2017 que, após cinco décadas de ecumenismo, as diferentes partes na grande mesa ecumênica não conseguem nem mesmo concordar sobre qual objetivo concreto final concreto eles estão tentando (33). Curiosamente, no entanto, todos eles concordam com o que não querem, a saber, a conversão dos não-católicos ao catolicismo. E isso confirma a tese da Grande Apostasia.

No Vaticano II, o ensino católico sobre a Igreja e o Estado foi substituído pelo grande erro da liberdade religiosa; o dogma da primazia papal foi minado pela noção de colegialidade; falsas religiões foram elogiadas por quaisquer “bons elementos”que  elas supostamente contêm; as seitas heréticas eram elogiadas por supostamente serem usadas pelo Espírito Santo como meio de salvação; e os judeus infiéis foram apresentados como não tendo sido rejeitados por Deus.

Após o concílio, o Santo Sacrifício da Missa foi transformado em um serviço da Última Ceia Protestante e, em geral, verdades dogmáticas reveladas por Deus gradualmente se tornaram convicções pessoais sinceras sobre as quais podemos e devemos dialogar porque “ninguém possui a verdade.”

Em termos de moralidade sexual, esses “pós-católicos” foram muito espertos: embora defendessem muitas das conclusões da antiga moralidade, as verdadeiras premissas das quais essas conclusões fluíram foram substituídas por falsas, minando assim secretamente seu fundamento, uma incongruência a ser explorada mais tarde. Além disso, enquanto a indissolubilidade do casamento, por exemplo, continuava a ser mantida no papel, as anulações (declarações de nulidade) passaram a ser distribuídas como doces para que os a indissolubilidade do vínculo matrimonial começassea ser claramente negada na prática. Os fariseus ficariam orgulhosos!

Para aqueles que ainda não conseguiram que seu casamento fosse declarado nulo, o homem que se autodenomina “Papa Francisco” desde então ficou bastante criativo. Em 2016, ele fez a exortação Amoris Laetitia, na qual basicamente rebaixa o adultério de ser um pecado mortal a ser apenas uma participação imperfeita no Santo Matrimônio “ideal”, que – eu não sou brincando – às vezes é “o que o próprio Deus está pedindo em meio à complexidade concreta dos limites de cada um, embora ainda não o objetivo totalmente ideal” (34).

Fiél a essa teologia blasfema e verdadeiramente infernal, em entrevista com o sociólogo francês Dominique Wolton em 2017, Francisco declarou: “Os pecados menos graves são os pecados da carne” (35).

Nada ilustra melhor o entendimento pós-Vaticano II do pecado do que aquilo que encontramos em muitas paróquias da Novus Ordo: Confessar-se apenas com hora marcada – ou talvez 30 minutos aos sábados -, e se tua igreja ainda tiver um daqueles velhos confessionários de madeira, bem, ao abrir a porta você descobre que ele foi transformado em um armário de vassouras sagradas. Ei, se não almas, ao menos se mantém a igreja limpa!

Para não ficar completamente destituído de pecados, no entanto, o Vaticano pós-católico começou a inventar outros: Rigidez, clericalismo, proselitismo, triunfalismo, pena de morte, não estar atento ao “clamor da terra” e advogar para a aplicação de leis de proteção de fronteira e imigração repentinamente tornaram-se pecaminosos, enquanto pecados reais tornaram-se menos graves, mero passo em falso ou, em geral, simplesmente irrelevante. Afinal, Deus é misericordioso – certo?

Agora olhem, eu poderia continuar com muitos outros exemplos, porém acho que o Padre quer que eu termine antes da meia-noite, então estes vão ter que ser o suficientes.

Ao que parece, então, após o Papa Pio XII, a Igreja Católica começou a desertar – a duvidar de si mesma, a contradizer-se e dissolver-se gradualmente. O que vemos hoje em Roma é o triste resultado de mais de seis décadas do Vaticano II, uma fatídica queda à apostasia.

No entanto, temos a  certeza infalível, dada pelo nosso próprio Senhor, que a Sua Igreja não pode desertar, não pode trair seu Senhor, não pode alterar substancialmente sua doutrina, não pode levar almas ao inferno, não pode falhar. Só por essa razão temos certeza infalível de que a Nova Igreja do Vaticano II não é a Sua Igreja.

Consequentemente, o que tem acontecido desde a morte do Papa Pio XII e a eleição de João XXIII está começando a se tornar claro: Os inimigos declarados de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e de Sua sagrada religião Católica, os protagonistas do “mistério da iniqüidade”, alcançaram o próximo marco de seus planos nefastos: Eles secretamente ascenderam a posições de poder na Igreja e, incapazes de realmente capturar e destruir o Papado, instalaram uma sucessão de falsos papas na Sé de Pedro. Não protegidos pelo Espírito Santo, esses antipapas foram capazes de espalhar blasfêmia, heresia, apostasia e todos os tipos de sujeira espiritual – uma religião pseudo-católica totalmente nova, na verdade – com a aparente aprovação do Papa e da Igreja.

Muito curiosamente, a Igreja do Vaticano II nem mesmo afirma ser a instituição fundada por Cristo, ela apenas afirma que a Igreja de Cristo existe nela (36). E no que diz respeito à Igreja como Corpo Místico de Cristo, bem, em janeiro 17 de 2020, o próprio Francisco disse a uma delegação ecumênica da Igreja Luterana da Finlândia que católicos e luteranos são “membros de um mesmo corpo místico de Cristo…” (37).

É realmente uma Nova Igreja! Se alguém ainda duvida, uma maneira fácil e prática de verificar se há uma nova religião em andamento, tanto no ensino como na prática, é ir à paróquia da Novus Ordo e tentar ensinar lá a religião do Papa Pio XII. Boa sorte com isso! Você se verá chutado para o meio-fio mais rápido do que pode dizer “fenomenologia existencial”.

O propósito desta Nova Igreja é obviamente extinguir o catolicismo do mundo pervertendo-o, sob o pretexto de ensinar uma compreensão mais profunda dele. É destruir a Fé, a esperança e a caridade nas almas, privando-as assim de graça santificadora e até mesmo da oportunidade de salvação. Infelizmente, devemos reconhecer que esses inimigos de Cristo tem sido extremamente bem-sucedidos nisso. Não é de se admirar que nosso Abençoado Senhor perguntou: “Mas,  quando vier o Filho do homem, julgais vós que encontrará fé sobre a terra?” (Lc 18:8).

Certamente esta Grande Apostasia, este grande afastamento da Fé, constitui uma parte substancial da Mística Paixão da Igreja. E embora, como os discípulos de nosso Senhor há tantos séculos, nos encontramos estupefatos e confusos agora com o que nos parece uma reviravolta bastante inesperada nos acontecimentos, no entanto, esta Paixão da Igreja foi profetizada assim como tinha sido a Paixão Física de nosso Senhor, e então Cristo, depois de Sua Ressurreição, repreendeu brandamente os discípulos cegos, dizendo: “Porventura não era necessário que o Cristo sofresse tais coisas, para entrar na sua glória?” (Lc 24:26).

Acho que é seguro dizer que, assim como a perseguição ao Corpo Físico de Cristo atingiu seu clímax na crucificação e Morte de nosso Senhor, também a perseguição ao Seu Corpo Místico atingiu seu auge preliminar na atualidade.

O mesmo Pe. Edward Leen que citei anteriormente diz o seguinte sobre a Paixão da Igreja:

Cristo encerrou Sua missão terrena porém para retomá-la de outra forma. O que parecia aos homens um final era apenas um começo. ‘Deus não daria o seu santo para ver a corrupção’ [Atos 2:31; cf. Atos 2:27; Atos 13:37 e Salmo 15:10]. Na Igreja viva, o Corpo Místico vivo que Cristo formou para Si mesmo, como resultado de Seu sacrifício, Ele continua na terra uma vida real, embora Mística. Cristo vive na  Igreja e através da mesma, Sua própria vida, em Seu Corpo Místico, reproduz os traços característicos de Sua vida na carne. Há apenas uma diferença marcante. O corpo mortal de Cristo experimentou a morte.O corpo místico é indestrutível. (38)

Na verdade, a Igreja não pode morrer. Ela não pode desaparecer, ela não pode falhar, ela não pode desertar. No entanto, se Deus não impede isso, então um resultado semelhante ao da morte ou deserção da Igreja pode ser alcançado por outros meios, em especial, substituindo a verdadeira Igreja por uma falsificação e para o verdadeiro Papa um equivalente falso.

Anteriormente, citamos o Cardeal Manning dizendo que o Anticristo “não será simplesmente o antagonista, mas o substituto ou suplantador do verdadeiro Messias. ”(39) Seria razoável inferir, portanto, que, como o Anticristo tentará suplantar o verdadeiro Cristo, o Corpo Místico do Anticristo tentará suplantar o Corpo Místico do verdadeiro Cristo,iu seja, a Igreja. E que figura de linguagem mais adequada poderia ser dada para descrever tal suplantação, que é necessariamente também um obscurecimento do indestrutível verdadeiro Corpo de Cristo, do que chamá-lo de “eclipse da Igreja”?

Muitos de vocês reconhecerão esta metáfora de uma Igreja em eclipse como aquela que foi usada, pelo menos supostamente, por Nossa Senhora de La Salette em 1846. Como não é certo, porém, se essas palavras eram verdadeiramente de Nossa Senhora, e desde o Santo Ofício em um decreto de 21 de dezembro de 1915,(40) proibiu a discussão do segredo de La Salette, abster-me-ei de comentá-lo.

Muito antes do Vaticano II, a ideia de um eclipse da Igreja, que é uma espécie de substituição na aparência externa, era contemplada pelos teólogos, ainda que rudimentalmente, como uma possibilidade – por exemplo,  na  Interpretação do Pe. Sylvester Berry do Apocalipse. Em 1921, Pe. Berry escreve que “o [falso] profeta provavelmente se estabelecerá em Roma como uma espécie de anti papa durante a vacância do trono papal … ”(41) Da mesma forma, Mons. Fulton Sheen, escrevendo em 1948, fala de uma “contra igreja ”que“ terá todas as notas e características da Igreja [Católica], mas no entanto é vazia de seu conteúdo divino. Será um corpo místico do Anticristo que em todos os aspectos externos se assemelhará ao corpo místico de Cristo. ”(42)

O próprio Novo Testamento fala sobre os sinais e eventos que devem preceder a Segunda Vinda de nosso Senhor e que podem ajudar a iluminar nossa situação atual. Em 2 Tessalonicenses 2:10, São Paulo avisa sobre a “operação do erro” que acontecerá para enganar as almas, em punição pela indiferença da humanidade à verdade; e o nosso próprio Senhor nos avisa que “porque se levantarão falsos cristos, e falsos profetas, e farão grandes milagres e prodígios, de tal modo que (se fosse possível) até os escolhidos seriam enganados…Logo depois da tribulação daqueles dias, escurecer-se-á o sol, a lua não dará a sua luz”(Mt 24: 24,29).

Santo Agostinho de Hipona, Doutor da Igreja, tem um comentário incrivelmente importante sobre essa passagem. Em sua carta para Hesíquio, escreve:

Pois quando o sol escurecer, e a lua não der a sua luz, e as estrelas cairem, e os poderes do céu forem abalados, como é lembrado pelos outros dois evangelistas neste lugar, o A igreja não aparecerá. Então os perversos perseguidores se enfurecerão além da medida, sem medo, desfrutando a felicidade mundana, dizendo “paz e segurança”. Então as estrelas cairão do céu, e os poderes do céu será movidos; porque muitos que foram vistos iluminados com graça, cederão aos seus perseguidores e cairão, e alguns dos mais fortes dos fiéis serão abalados.(43)

Em todo caso, para compreender melhor a natureza de nossa situação hoje, será útil meditar sobre a Paixão de Cristo na Sexta-feira Santa. Visto que a Igreja é o Corpo Místico de Cristo, podemos legitimamente inferir que o que Deus permitiu acontecer a Cristo em Sua Paixão Física, Ele também permitirá que aconteça à Igreja em sua Paixão Mística, exceto a morte. Por outro lado, o que era impossível de acontecer a Cristo, da mesma forma será impossível de acontecer à Sua Igreja.

Por exemplo: Cristo retirou-se em agonia; Ele foi assistido por um anjo; Ele foi traído por um dos Seus; Ele foi abandonado e negado; Ele foi injustamente acusado e condenado; Ele sofreu intensamente; Ele foi humilhado, espancado e açoitado; Ele carregou a cruz; Ele foi crucificado; Ele morreu; Ele foi colocado no túmulo; Ele ficou escondido do mundo por um curto período; e ele levantou-se novamente. Todas essas coisas eram possíveis – todas essas coisas que Deus permitiu que acontecessem a Cristo durante Sua Paixão na  Sexta Feira Santa e Sábado Santo. Pode-se inferir, portanto, que, em geral, todos estas coisas podem acontecer de alguma forma ou outra para Sua Igreja – a morte sendo, novamente, a única exceção.

Mas observem o que não foi possível acontecer para Cristo: Ele não podia deixar de ser Deus; Ele não podia mentir; Ele não podia enganar Seus discípulos; Ele não podia conduzir ninguém ao inferno; Ele não podia pecar; Ele não podia deixar de ser o Caminho, a Verdade e a Vida; Ele não podia se tornar o diabo ou fazer as pazes com ele; Ele não podia mudar ou rejeitar o Evangelho que pregou; Ele não podia deixar de ser o meio de salvação e se tornar um meio de condenação.

Isso é muito significativo porque todos nós sabemos que a grande e extremamente popular alternativa ao sedevacantismo em nossos dias é o que é amiúde  chamado de “tradicionalismo reconhecer e resistir”, que tenta praticar o catolicismo tradicional dentro da Nova Igreja, isto é, estando ligada, em maior ou menor grau, à hierarquia modernista. A ideia é reconhecer estas alegadas autoridades católicas como válidas e legítimas, mas resistir a elas em tudo o que  julgar que não se conforma suficientemente ao catolicismo como era conhecido até o Vaticano II.

Esta posição é extremamente atraente para muita gente porque promete o melhor dos dois mundos: toda a doutrina tradicional – ou pelo menos como assim pensam – além das formas tradicionais de adoração, sem nenhum daqueles problemas incômodos que derivam de não ter uma hierarquia conhecida para governar a Igreja com autoridade comum.

Claro, quanta resistência é necessária ou legítima, em última análise, será determinada por cada resistente individual ou pelo clérigo, cada crente em particular escolheu terceirizar o assunto para – e nos tempos de Pachamama, COVID-19, e Traditionis Custodes, (44) isto se torna uma tarefa cada vez mais difícil.

Enquanto isso, tais “tradicionalistas da resistência” estão rasgando as doutrinas da Igreja sobre o papado, a Igreja e Magistério em pedaços. Em sua encíclica Mortalium Animos de 1928 contra o ecumenismo, o Papa Pio XI aponta que “nesta única Igreja de Cristo nenhum homem pode estar, ou permanecer, se não aceitar, reconhecer e obedecer à autoridade e supremacia de Pedro e seus legítimos sucessores. ”(45) O Concílio Vaticano I e o Quarto Concílio de Constantinopla proclamam que“ A primeira condição da salvação é manter a regra da verdadeira fé. E desde aquela palavra de nosso Senhor Jesus Cristo, Você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha igreja [Mt 16:18], não pode faltar em seu efeito, as palavras faladas são confirmadas por suas consequências. ”(46)

Por essa razão, os verdadeiros papas sempre exigem uma submissão efetiva ao seu magistério oficial e não apenas da boca para fora . Papa Pio IX, por exemplo, no mesmo texto que vimos anteriormente, em que ele denuncia as forças anticatólicas que perseguem a Igreja, diz que os fiéis devem “crescer no amor por esta Santa Sé, venerá-la e aceitá-la com total obediência; eles devem executar tudo o que a própria Sé ensina, determina e decreta. ”(47)

Quando Leão XIII era Papa e celebrava 50 anos de sacerdócio em 1887, Dom Giuseppe Sarto de Mântua, na Itália disse ao seu rebanho:

É chegado o momento de provar ao grande Vigário de Cristo o nosso imutável afecto e fidelidade. Para nós Leão XIII é o guardião das Sagradas Escrituras, o intérprete da doutrina de Jesus Cristo, o supremo dispensador dos tesouros da Igreja, o chefe da religião católica, o principal pastor de almas, o professor infalível, o guia seguro, que nos orienta em nosso caminho através de um mundo envolto em trevas e da sombra da morte. Toda a força da Igreja está no Papa; todos os fundamentos da nossa Fé essão solidificados  no sucessor de Pedro. Aqueles que desejam o mal para a Igreja agridem o papado de todas as maneiras possíveis; eles se separam e se desviam da Igreja e se esforçam ao máximo para fazer do Papa um objeto de ódio e desprezo. Quanto mais eles se esforçam para enfraquecer nossa fé e nosso apego à cabeça da Igreja, mais seremos atraídos a ele por meio do testemunho público de nossa Fé, nossa obediência e nossa veneração.(48)

Agora, vocês podem estar se perguntando por que devemos nos importar com as palavras do bispo de Mântua. Bem, 16 anos mais tarde aquele bispo de Mântua tornou-se Papa, e nós o conhecemos hoje como São Pio X, o grande flagelo do Modernismo.Como Papa, São Pio X ensinou que “o primeiro e maior critério da fé, o teste final e inexpugnável da ortodoxia é a obediência à autoridade de ensino da Igreja, que é sempre viva e infalível, uma vez que foi estabelecida por Cristo para ser´´ …a  coluna e firmamento da verdade'(1 Tm 3:15). ”(49)

Senhoras e senhores, acho que é bastante evidente que todo esse programa de reconhecer e resistir, onde cada indivíduo Católico decide o que aceitar do Papa e o que rejeitar, não é exatamente compatível com a tradicional doutrina católica pré-Vaticano II..

Isso se torna ainda mais evidente quando lembramos que a Igreja é verdadeiramente o próprio Corpo Místico de Cristo e que o Papa, como Papa, está tão intimamente unido ao Nosso Senhor a ponto de constituir, junto com Ele, “uma só Cabeça”. (50) E então de repente torna-se chocantemente tão evidente que o tradicionalismo reconhecer-e-resistir é, na verdade, uma blasfêmia terrível. Sem dúvida eles não percebem isto, mas aqueles que promovem esta posição de resistência, minando e negando a verdadeira doutrina sobre o papado, são, na verdade, participantes involuntários daquela mesma destruição do Papado que o Papa Leão XIII nos alertou ser o objetivo dos maçons, a saber, “que o sagrado poder dos Pontífices deve ser abolido, e que o próprio papado, fundado por direito divino, deve ser totalmente destruído. ”(51)

Mas, eles dizem, certamente a Igreja não pode ficar sem um Papa por mais de seis décadas sem desertar! E embora devamos conceder que a ausência prolongada de um Papa apresenta certamente uma enorme dificuldade em todas as suas consequências, no entanto, continua a ser verdade que aceitar os assim chamados “Papas” do Vaticano II, e toda a Igreja Novus Ordo como autoridades eclesiásticas legítimas, não faz absolutamente nada para remediar a situação em que nos encontramos. Pelo contrário!

Pois, de que adianta ter uma igreja com uma hierarquia funcionando perfeitamente se essa hierarquia contradiz e corrompe a própria razão pela qual Cristo fundou Sua Igreja em primeiro lugar? O propósito da Igreja Católica, devemos lembrar, é inteiramente sobrenatural. Ela conduz almas para o Céu, ligando-as a Cristo, a Cabeça, como membros de Seu Corpo Místico.

Como o Papa Pio XII ensina claramente em sua encíclica sobre a Igreja: “Não pode … haver nenhuma oposição ou conflito real entre a missão invisível do Espírito Santo e a comissão jurídica de Governante e Mestre recebida de Cristo …. ”(52) Ao mesmo tempo, também não pode haver “Igreja oculta e invisível” (53), como se Cristo tivesse fundado uma igreja sem hierarquia. Archy, uma igreja que é meramente espiritual e não tem corpo discernível, como os protestantes acreditam.

Devemos ter muito cuidado, portanto, para não afirmar nada contrário à doutrina Católica. No entanto, o que podemos e, na minha opinião, devemos fazer por enquanto, além de professar todas as verdades de nossa Fé sem restrição ou reser va, é também apontar que simplesmente não sabemos ou entendemos tudo o que aconteceu desde a morte do Papa Pio XII. De certa forma, nos encontramos em uma situação semelhante à confusão vivida por Santa Maria Madalena: “… porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram“ (Jo 20:13).

Certamente não podemos ser culpados por não termos todas as respostas para um enigma que, deveria ser seguro supor, teria deixado perplexos os teólogos mais eruditos da Igreja, se eles tivessem vivido o suficiente para ver o fruto podre maduro da religiáo do Vaticano II. O simples fato é que estamos nos vendo confrontados com uma situação que não criamos e nem queremos. O que mais poderia ser pedido de nós, a não ser analisá-lo à luz do ensino Católico no melhor de nossa capacidade e traçar as con clusões que seguem com necessidade?

Não há dúvida de que a nossa Fé está a ser posta à prova, assim como a Fé dos discípulos na Sexta-Feira Santa e no Sábado Santo. O Concílio Vaticano I explica que “esta fé, que‘ é o início da salvação humana ’[Concílio de Trento, Sessão VI, Capítulo 8], é uma virtude sobrenatural pela qual nós, com a ajuda e inspiração da graça de Deus, acreditamos que as coisas reveladas por Ele são verdadeiras, não porque a verdade intrínseca das coisas reveladas foi percebida pela luz natural de razão, mas por causa da autoridade do próprio Deus que as revela, que não pode enganar nem ser enganado. ”(54)

Este é um ponto absolutamente crucial que acredito não ser muito bem compreendido em nossos dias sombrios. Nós acreditamos na Santa Fé Católica porque o próprio Deus a revelou, não porque vimos ou entendemos sua verdade por nossa razão natural. Isso é o que é a fé sobrenatural, e ela não é apenas muito virtuosa, mas absolutamente necessária para a salvação.Como São Paulo disse ao Hebreus: “… sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11: 6); e como nosso Bem-aventurado Senhor exortou São   Tomé: “… bem-aventurados os que crerem sem ter visto” (Jo 20,29).

Se, portanto, temos Fé, não nos preocupamos se não temos todas as respostas, se não podemos compreender ou explicar tudo. se nos deparamos com o mistério. São Paulo diz aos Coríntios: “… caminhamos pela fé e não pela visão” (2 Co 5, 7). Isto não quer dizer que as respostas teológicas não sejam importantes ou desnecessárias. É certamente verdade que a Fé Católica está em harmonia com a razão; e mesmo esses nossos estranhos dias devem – e consequentemente têm – uma explicação teológica. Tudo que eu quero transmitir é que nossa própria falha em dar sentido a tudo isso não deve nos desencorajar; muito menos devemos deixá-lo se tornar um obstáculo à nossa Fé.

Qual é a alternativa, afinal? Devemos nos apegar à Igreja Novus Ordo e permitir que ela nos leve lentamente à ruína eterna?Deve abraçar seu indiferentismo ecumênico e afirmar que basicamente os seguidores de todas as religiões vão para o céu? E se isso se assim for, que mal há em permanecermos Sedevacantistas? Ou devemos ir ainda mais longe e nos alinharmos com a heresia de Abu Dhabi e professar que todas as religiões são desejadas por Deus? E se for assim, de novo, isso não incluiria nossa religião também?

Devemos reconhecer um apóstata blasfemo como o Vigário de Cristo e então tratá-lo como o Vigário do Anticristo? Para quê propósito? Devemos aceitá-lo como o chefe da religião verdadeira e, em seguida, recusar-lhe submissão para que não fiquemos realmente expostos ao risco da condenação eterna por seu magistério? Para qual finalidade?

Vamos afirmar todos os tipos de absurdos blasfemos com base no fundamento de que, de outra forma, teríamos que concluir que as portas do inferno prevaleceram (cf. Mt 16,18)? Não teríamos que concluir, muito antes, que os portões do inferno prevaleceram precisamente se esta igreja manifestamente apóstata é a Igreja de Jesus Cristo e sua cabeça blasfema Seu Vigário?

De que adianta uma igreja que pode ser vista e reconhecida, se ela ensina falsa doutrina, te engana sobre o propósito da vida, apresenta pecadores escandalosos como santos de veneração e imitação, faz com que você participe de uma liturgia sacrílega, declara seu casamento válido nulo, te priva de graças indizíveis e, no final da tua vida, te oferece, como os Padres Radecki assim a chamam, “O equivalente espiritual de um cartão de melhora” (55) ao vez da Extrema Unção? Como tal visibilidade, unidade, apostolicidade e universalidade de tal igreja podem ajudar as almas? Ao contrário, tais qualidades, se as tivesse, tornariam tudo ainda mais perigoso.

Pertence à natureza da Igreja, devemos lembrar, ter uma doutrina imutável. O Papa Pio IX afirma que claramente em sua Carta Apostólica Iam Vos Omnes de 1868. Nela, ele contrasta a natureza da Igreja verdadeira com a das seitas heréticas, que têm ensinamentos que mudam continuamente. Ele afirma:

Todos devem compreender perfeitamente, e ver de forma clara e evidente, que tal estado de coisas é diretamente oposto à natureza da Igreja instituída por nosso Senhor Jesus Cristo; pois nessa Igreja a verdade deve continuar sempre firme e sempre inacessível a qualquer mudança, como um depósito dado àquela Igreja para ser guardado em sua integridade, para a tutela da qual a presença e auxílio do Espírito Santo foram prometidos para a Igreja para sempre.(56)

Não adianta, portanto, dizer, como muitos fazem, que devemos aceitar a Igreja do Vaticano II como a Igreja verdadeira e simplesmente rejeitar suas heresias e outros erros. Na verdade, todo o sentido de ter uma verdadeira Igreja – a verdadeira Igreja fundada pelo Filho de Deus – e pastores legítimos, é para que ninguém se depare com a situação de ter que peneirar doutrinas salutares de danosos erros. Pois é isso que se encontra no protestantismo: lá, também, cada crente rejeita de seu pastor o que ele considera mau e aceita do pastor o que julga conforme o Evangelho.

Não é assim na Igreja Católica. O Papa Leão XIII ensina que “Cristo instituiu na Igreja um Magistério vivo, autoritário e permanente, que por Seu próprio poder Ele fortaleceu, pelo Espírito da verdade Ele ensinou, e por milagres confirmou. Ele desejou e ordenou, sob as mais graves penalidades, que seus ensinamentos fossem recebidos como se fossem Seus próprios. ”(57) Essa é a razão de ter uma Igreja que pode ser identificada como a verdadeira Igreja de Jesus Cristo.

Isso é o que o Concílio Vaticano I ensina em sua constituição dogmática sobre a Fé Católica quando diz: “Além disso, para que possamos cumprir satisfatoriamente o dever de abraçar a verdadeira fé e de perseverar continuamente nela, Deus, por meio de Seu Filho unigênito, instituiu a Igreja e lhe deu sinais claros de Sua instituição, para que pudesse ser reconhecida por todos como a guardiã e mestra da palavra revelada. ”(58)

Esse é o objetivo da Igreja ter todas as suas propriedades, atributos e marcas em primeiro lugar. Esse é o ponto de um sucessão perpétua de Papas e bispos; é o ponto de ter certeza sobre a identidade do Papa. Como o Bbispo Donald Sanborn escreve em seu boletim informativo do seminário de junho de 2021, “… as estruturas organizacionais da Igreja Católica existem para a Fé Católica e não vice-versa. ”(59)

No Juramento contra o Modernismo, jura-se: “Eu mantenho firmemente … e manterei até meu último suspiro a crença dos Padres em caráter de verdade, que certamente é, foi e sempre estará na sucessão do episcopado desde os apóstolos ”. (60) Aqui novamente vemos que o propósito de uma sucessão de bispos e papas é a preservação da Fé para a salvação das almas. Toda a sucessão episcopal do mundo é inútil se aqueles que sucedem aos Apóstolos não têm Fé. Ninguem necessita uma sucessão perpétua de hereges.

É uma tarefa fútil, portanto, para o tradicionalista ´´reconhecer-e-resistir“  apontar que, uma vez que deve haver sempre um magistério vivo na Igreja, portanto, o magistério da Novus Ordo coberto de erros e heresias deve sê-lo- nós apenas temos que rejeitar aqueles coisas dele que são falsas ou perigosas. Como nosso bendito Senhor disse aos fariseus, “… qual é mais, o ouro ou o templo, que santifica o ouro?” (Mt 23:17). O magistério da Igreja divinamente estabelecido e a submissão de que deve ser dado a ele, são duas faces da mesma moeda. Você não pode separar um do outro.

O Papa Pio XII fala da Igreja como “um verdadeiro reino, no qual todos os crentes devem fazer [para Cristo] toda a oferta de seu intelecto e vontade, e humilde e obedientemente modelar-se Naquele que por nossa causa “fazendo-se obediente até morte ‘[Fi 2: 8]. ”(61) Um magistério eclesiástico que não precisa ser obedecido, ou, pior ainda, que não pode ser obedecido sob pena de heresia ou outro perigo espiritual, não existe. Pelo menos não é o magistério da Igreja Católica Romana, o Corpo Místico de Cristo.

Agora, alguns tentam contornar esta contradição intolerável, culpando a deserção da Fé no que eles chamam o “elemento humano” da Igreja, geralmente sem definir, contudo, exatamente o que é esse elemento humano. Na verdade, o elemento humano nada mais é do que o fato de que a Igreja é composta de membros que são humanos e, como tal, eles são pecadores. (62)

Pio XII naturalmente admite isso, mas também esclarece que o magistério e as leis da Igreja não podem ser maculados por homens pecadores. Ele diz: “Certamente a Mãe amorosa [a Igreja] é imaculada nos Sacramentos, pelos quais ela dá a vida e alimenta seus filhos; na fé que ela sempre preservou inviolada; em suas sagradas leis impostas a todos; nos evangélicos conselhos que ela recomenda; naqueles dons celestes e graças extraordinárias através das quais, com inesgotável fecundidade, ela gera hordas de mártires, virgens e confessores. ”(63)

Isso somente faz sentido, pois se membros pecadores da Igreja pudessem derrotar o propósito para o qual Deus a estabeleceu, então isso significaria que a Obra Salvífica de Redenção de Deus, perpetuada ao longo do tempo, depende da santidade das próprias criaturas cuja falta de santidade Ele veio para livrá-los. Isso também significaria que Deus fundou Sua Igreja não na rocha, mas na areia (cf. Mt 7,26-27). Mas é claro que nosso Senhor nos disse que Ele construiria Sua Igreja sobre rocha, isto é, na Rocha, São Pedro, Cefas – precisamente para que as portas do inferno não prevalecessem contra ela (ver Mt 16,18; Jo 1:42).

A Igreja Católica não é um fim em si mesma. A Igreja foi estabelecida com a única razão de salvar almas, anexando-as a Cristo.Ela faz isso tornando-as membros vivos de Seu Corpo Místico, do qual Ele é a Cabeça, ensinando, governando e santificando almas.

A Nova Igreja do Concílio Vaticano II não faz isso. Ela faz o oposto, que é a razão pela qual as pessoas do movimento ´´ reconheça e resista“  , bem, resistem. Mas se tal resistência é necessária, então a parte de reconhecer não é apenas inútil, mas perigosa – porque o objetivo do reconhecimento deve ser o de apresentar submissão. Para as ovelhas insistirem que seu pastor é legítimo e pode ser reconhecido como tal por suas qualidades, apenas para então fugirem dele, a fim de que ele não deveria realmente os conduzir e pastorear , corrompe todo o propósito de ele ter aquelas qualidades reconhecíveis em primeiro lugar.Na verdade, isso os torna eminentemente prejudiciais.

A única razão pela qual Deus estabeleceu a Igreja Católica com uma hierarquia de pastores legítimos é para garantir que o ovelhas não se extraviassem. É para garantir que elas fiquem juntas, recebam o sustento adequado, fiquem longe de problemas, sejam guardadas do perigo, e sigam o pastor em pastagens cada vez mais verdes.

Nosso bendito Senhor predisse que o pastor seria ferido e as ovelhas do rebanho seriam dispersas (ver Mt 26:31). Isso se referia a Si Próprio, em primeiro lugar, com respeito à sua sagrada paixão; mas faz sentido que se a Igreja, também, deve sofrer sua própria Paixão Mística, então o Vigário de Cristo, a Cabeça Visível da Igreja, seria igualmente atingido – e assim as ovelhas do rebanho seriam novamente dispersas por um tempo.

E o que as ovelhas devem fazer se não podem encontrar seu pastor, se não sabem realmente o que aconteceu com ele, ou o que mais pode estar acontecendo? Como disse nosso Senhor, as ovelhas ouvem a voz do pastor: Mas não seguem o estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”(Jo 10,5). E é isso que fazemos: nós fugimos dos falsos papas. Como sabemos que eles são falsos?

Consideremos o ensinamento do Papa Pio VI em seu decreto Super Soliditate de 1786. Falando do Papa, ele escreve que “ao ouvir a ele, as ovelhas ouvem em sua voz a voz do próprio Jesus Cristo, para que não sejam seduzidas pela voz de estranhos em pastagens nocivas e mortais. ”(64) Relembrando o ensino de Pio XII de que“ Cristo e Seu Vigário constituem uma única Cabeça ”, (65) sabemos que o Papa no exercício de seu ofício papal sempre e necessariamente ensinará, governará e santificará o rebanho de nosso Senhor como o Bom Pastor que ele representa.

Desta forma, podemos realmente responder a quase todas as objeções de nossos oponentes do ´´reconhecer e resistir“, sejam elas quanto à visibilidade, apostolicidade, unidade, sucessão perpétua ou aceitação universal pacífica.

Deixe-os insistir que Francisco é seu Papa. O fato é que o Papa é a regra da Fé, (66) e ainda assim Francisco não é a regra de Fé deles. O Papa é o princípio da unidade na Igreja, mas Francisco não os une em uma fé verdadeira, um culto santo, ou um governo salutar. O Papa é o Supremo Legislador, mas eles rejeitam as leis de Francisco julgando as que consideram  necessárias ou úteis. O Papa é o árbitro final, a autoridade final na Igreja, mas eles nem mesmo se esquivam de declarar os julgamentosdele  sem efeito. O Papa é o Mestre Universal, mas eles jamais gostariam que Francisco ensinasse catecismo básico para seus filhos.(67) O Papa é o Pai de todos os Cristãos, mas eles o tratam como um padrasto indesejável na melhor das hipóteses. O Papa é a rocha que garante a solidez da Igreja como “pilar e fundamento da verdade” (1 Timóteo 3:15), ao passo que Francisco mina toda fundação Católica.

Para concluir, devemos reconhecer francamente que estamos diante de um grande mistério – não com uma contradição, mas com um mistério: o que aconteceu à Igreja? Onde está a hierarquia da Igreja? Podemos identificar facilmente os Católicos, ordenados e não ordenados, mas não sabemos o que aconteceu com o magistério vivo (o magistério da Igreja) ou com a hierarquia que exerce o poder comum da Igreja para governar.

Certamente não é demais pedir a qualquer um que creia que a perseguição final ao Corpo Místico do Filho de Deus Encarnado envolva mistério.. Assim como Cristo estava oculto no Sábado Santo, a Igreja está atualmente eclipsada. Enquanto o “Mistério de iniqüidade” procura suplantar o verdadeiro Messias, então sua “operação de erro” substitui Seu Corpo Místico. Nossa única opção é continuar a professar a Fé, viver vidas santas e se recusar a ter qualquer coisa a ver com a falsa Nova Igreja. Isso nunca pode estar errado.

Sim, estamos felizes em chamá-lo de “Sedevacantismo”, mas realmente não é um “-ismo” a não ser p verdadeiro Catolicismo durante esses confusos tempos. É uma posição teológica que “se cria “, por assim dizer, depois que descartamos as coisas que sabemos serem impossíveis à luz das verdades atemporais da Fé Católica. Sedevacantismo é o que resta, uma vez que rejeitamos o que é claramente falso.

Se Francisco e seus cinco predecessores de memória infeliz fossem verdadeiros papas, então as forças das trevas realmente teriam prevalecido. Então, os “inimigos mais mortais da religião católica”, (68) como o Papa Pio IX os chamou, teriam triunfado, então os “orgulhosos portões do inferno” (69) teriam conseguido derrubar a Cadeira da Verdade e transformá-la em uma fonte de blasfêmia e heresia. Então o que tinha sido a “cidadela e baluarte da fé Católica” (70) teria se tornado a escavadeira do Catolicismo.

Simplesmente não há sentido em ter um Papa infiel ou uma Igreja desertada, mais do que haveria em ter sal que perdeu seu sabor. Pois então, como disse Cristo, para nada mais serve senão para ser lançado fora e calçado pelos homens“Mt 5:13).

Rejeitamos a Igreja do Vaticano II porque acreditamos na Igreja Católica. Não queremos fazer parte da igreja ecumênica de apostasia, porque queremos apenas ser de Cristo e parte do Seu Corpo Místico (cf. 2 Cor 6: 14-16).

O dogma de “nenhuma salvação fora da Igreja” não é simplesmente um slogan – tem um significado real. A razão de não haver salvação fora da Igreja é que ela é o Corpo Místico de Cristo, e Cristo é o único Salvador (ver Jo 14: 6; Atos 4:12; 1 Tim. 2: 5).Aquele que não está em comunhão com Ele, está desgarrado (ver Mt 10:35); ou, como São Jerônimo colocou, “aquele que não é de Cristo, é Do Anticristo. ”(71)

+ JMJ +


Nota do tradutor: As citações são todas colhidas de livros originalmente escritos em inglês ou traduções inglesas de outro idioma. O nome de cada obra foi traduzida literalmente para o português. Em caso de haver alguma tradução em idioma português, pode haver discrepância sobre a página indicada.


NOTAS FINAIS

(1) Ensinos Papais: A Igreja Nas edições dos Monges Beneditinos de Solesmes, n. 1316.

(2) Papa Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, n. 31. Disponível online (em inglês) em: https://www.papalencyclicals.net/pius12/p12mysti.html

(3) Pio XII, Mystici Corporis n. 65

(4) Documento sobre a Fraternidade Humana para Paz Mundial e Vivência em Comum. Disponível online (em inglês):  https://www.vatican.va/content/francesco/en/travels/2019/outside/documents/papa-francesco_20190204_documento-fratellanza-umana.html

(5) Papa Santo Pio X, Encíclica Pascendi Dominici Gregis n.39 Disponível online (em inglês) em: https://www.papalencyclicals.net/pius10/p10pasce.htm

(6) Papa Pio XI, Encíclica Mortalium Animos, n. 2. Disponível online (em inglês) em: https://www.papalencyclicals.net/pius11/p11morta.htm

(7) Dom Prosper Guéranguer, A Monarquia Papal, p. 64.

(8) Disponível online (em inglês) em: https://novusordowatch.org/wp-content/uploads/piusvi-auctorem-fidei.pdf

(9) Papa Pio XII, Encíclica  Humani Generis, n. 37. Disponível online (em inglês) em: https://www.papalencyclicals.net/pius12/p12human.htm

(10) Pe. Edward Leen, Por quê a Cruz? Páginas 136-137; 152-153. Isto se baseia no ensinamento de São Tomás de Aquino.

(11) Cardeal Henry Edward Manning, O Papa e O Anti-Cristo, p. 12. Este livro é uma reedição do original A Presente Crise da Santa Sé Testada pela Profecia de 1861.

(12) Cardeal Henry Edward Manning, O Papa e O Anti-Cristo, p. 22.

(13) Cardeal Henry Edward Manning, O Papa e O Anti-Cristo, p. 13.

(14) Cardeal Henry Edward Manning, O Papa e O Anti-Cristo, p. 29.

(15) Papa Leão XIII, Encíclica  Divinum Illud, n. 5. Disponível online (em inglês) em: https://www.papalencyclicals.net/leo13/l13divin.htm. Isto é repetido pelo Papa Pio XII, Mystici Corporis, n. 26.

(16) Papa Pio XII, Mystici Corporis, n. 67.

(17) Cardeal Henry Edward Manning, O Papa e O Anti-Cristo, p. 54.

(18) Papa Pio XII, Mystici Corporis, n. 3.

(19) Veja também: Papa Pio XII, Mystici Corporis, n. 106.

(20) Pe. Charles Arminjon, O Fim do Mundo Atual e os Mistérios da Vida Futura, ps. 288-289.

(21) Pe Denis Fahey, O Reinado de Cristo e Conversão da Nação Judia, p. 78.

(22) Santo Roberto Bellarmino, Sobre o Pontífice Romano, Livro III, Capítulo 12.

(23) Veja Os 3:4-5; Rm 11:23-32; O Reinado de Cristo e Conversão da Nação Judia ps. 101-105.

(24) Pius XII, Mystici Corporis, n. 40.

(25) ) Cardeal Henry Edward Manning, O Papa e O Anti-Cristo, p. 23.

(26) Papa Pio IX, Encíclica Exultavit Cor Nostrum, n. 2. Disponível online (em inglês) em: https://www.papalencyclicals.net/pius09/p9exulta.htm.

(27) Papa Pio IX, Encíclica Quanta Cura, n. 9. Disponível online (em inglês) em: https://www.papalencyclicals.net/pius09/p9quanta.htm.

(28) Papa Leão XIII, Encíclica Humanum Genus, n. 2. Disponível online (em inglês) em: https://www.papalencyclicals.net/leo13/l13human.htm.

(29) Papa Leão XIII, Encíclica Humanum Genus, n. 15. Disponível online (em inglês) em: https://www.papalencyclicals.net/leo13/l13human.htm.

(30) Papa Pio IX, Encíclica Inter Multiplices, n. 7. https://www.papalencyclicals.net/pius09/p9interm.htm.

(31) Papa Pio IX, Qui Nuper, n. 3. Disponível online (em inglês) em: https://www.papalencyclicals.net/Pius09/p9quinup.htm.

(32) Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática Pastor Aeternus, Capítulo 4. https://www.papalencyclicals.net/councils/ecum20.htm

(33) Veja: https://novusordowatch.org/2017/01/vatican-no-consensus-goal-of-ecumenism

(34) Francico, Exortação Apostólica Amoris Laetitia, n. 303. https://www.vatican.va/content/dam/francesco/pdf/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20160319_amoris-laetitia_en.pdf.

(35) Tal citação se encontra no livro Um Futuro de Fé: O Caminho para a Mudança na Política e Sociedade, p. 173. Veja: https://novusordowatch.org/2019/02/francis-least-serious-sins-flesh

(36) Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 8.

(37) https://www.vatican.va/content/francesco/en/speeches/2020/january/documents/papa-francesco_20200117_chiesa-luterana-finlandia.htm

(38) Pe Edward Leen, Por quê a Cruz?, ps. 365-366.

(39) Cardeal Henry Edward Manning, O Papa e O Anti-Cristo, p. 29.

(40) Acta Apostolicae Sedis VII (1915), p. 594.

(41) Pe E. Sylvester Berry, O Apocalípse de São João, p. 135.

(42) Pe Fulton J. Sheen, Comunismo e a Consciência do Ocidente, p. 24.

(43) Santo Agostinho, Epístola CXCIX em Collectio Selecta Ss Ecclesiae Patrum, volume CXLVIII. Ps 127-128.

(44) Esta Carta Apostólica com nome de motu próprio pelo Francisco de 26 de Julho de 2021, severamente restringe o uso do Missal Romano de 1962 (Missa Latina Tradicional) na Nova Igreja.

(45) Papa Pio XI, Encíclica Mortalium Animos, n. 11. Disponível online (em inglês) em https://www.papalencyclicals.net/pius11/p11morta.htm

(46) Concílio Vaticano I, Pastor Aeternus, Capítulo 4.

(47) Papa Pio IX, Encíclica Inter Multiplices, n. 7.

(48) F.A. Forbes, Papa São Pio X, ps. 34-35.

(49) Papa São Pio X, Alocução Con Vera Soddisfazione (10 de Maio de 1909). https://novusordowatch.org/pius10-con-vera-soddisfazione

(50) Pius XII, Mystici Corporis, n. 40.

(51) Papa Leão XIII, Encíclica Humanum Genus, n. 15. Disponível online (em inglês) em: https://www.papalencyclicals.net/leo13/l13human.htm

(52) Pius XII, Mystici Corporis, n. 65.

(53) Papa Leão XIII, Emcíclica Satis Cognitum, n.3. https://www.papalencyclicals.net/leo13/l13satis.htm . Papa Pio XII também afirma isto em Mystici Corporis, n. 64.

(54) Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática Dei Filius, Capítulo 3. https://inters.org/Vatican-Council-I-Dei-
Filius

(55) Pe Francisco Radecki e Pe Dominic Radecki, Tempos Tumultuosos, p. 478.

(56) Papa Pio IX, Carta Apostólica Iam Vos Omnes. https://novusordowatch.org/pius9-iam-vos-omnes

(57) Leão XIII, Satis Cognitum, n. 9.

(58) Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática Dei Filius, Capítulo 3. https://inters.org/Vatican-Council-I-Dei-Filius

(59) Informativo do Seminário da Santíssima Trindade, Junho 2021. https://mostholytrinityseminary.org/wp-content/uploads/2021/07/Jun2021.pdf

(60) O Juramento contra o Modernismo foi instituído pelo Papa São Pio X com sua Carta Apostólica Sacrorum Antistium de 1 de Setembro de 1910. https://www.papalencyclicals.net/Pius10/p10moath.htm

(61) Pius XII, Mystici Corporis, n. 65.

(62) Veja Pius XII, Mystici Corporis, n. 92.

(63) Papa Pio XII, Mystici Corporis, n. 66.

(64) Papa Pio VI, Bula Super Soliditate. https://novusordowatch.org/pius6-bull-super-soliditate

(65) Pius XII, Mystici Corporis, n. 40.

(66) Veja Papa Leão XIII, Encíclica Sapientiae Christianae, n. 21-25. https://www.papalencyclicals.net/leo13/l13sapie.htm

(67) O falecido escritor do movimento “Reconheça e Resista” John Vennari uma vez disse: “Eu jamais permitiria que o papa Francisco ensinasse religião aos meus filhos.” https://novusordowatch.org/2013/06/vennari-against-francis

(68) Papa Pio IX, Inter Multiplices, n. 7.

(69) Papa Pio IX, Inter Multiplices, n. 7.

(70) Papa Pio IX, Qui Nuper, n. 3.

(71) São Jerônimo, Carta XV ao papa Dâmaso, n 2. Citado em Ensinamentos Papais: A Igreja, n. 185.

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